Me chamo Gabriela, tenho 29 anos e descobri que tinha escoliose aos 11 anos. Estava numa aula de Jazz, quando a professora falou sobre minha “coluna torta”. Alguns parentes já haviam notado algo diferente na minha coluna, porém nada muito visível.
Na semana seguinte, minha rotina mudou completamente. Eram radiografias, hospitais, consultas, natação, RPG, além da busca incansável por um especialista em coluna. Lembro de ser avaliada numa sala imensa, com muitas meninas usando colete para coluna, que eu não fazia ideia do que se tratava.
Alguns meses após, chegou meu colete. Ele passaria 23 horas por dia comigo. As aulas de ballet foram canceladas e a diretora do colégio foi avisada para tentar amenizar o bullying que eu poderia sofrer. Eu tinha vergonha do colete, da diretora e dos novos apelidos.
Porém, a curva não parava de aumentar e, algum tempo depois, me informaram que meu caso seria cirúrgico. Cheguei a ouvir de alguns médicos que a cirurgia seria muito arriscada e, inclusive, me desaconselharam a fazê-la. Nessa época eu não tinha mais o colete para tentar me esconder. Usava blusas de frio o tempo todo. Mudei de colégio, o que foi um alivio para mim pois ninguém saberia da minha escoliose. Já estava no primeiro ano e continuava me escondendo. Não fazia, por exemplo, aulas de educação física, pois assim não precisaria tirar minhas blusas de frio.
Nessa época eu não tinha mais o colete para tentar me esconder. Usava blusas de frio o tempo todo e não fazia aulas de educação física.
Nesse período deixei de fazer tudo que eu amava, deixei de viver a adolescência, de sair com amigos e de conhecer lugares. No meio dessa loucura, conheci uma menina que havia sido operada pelo Dr. Alberto e me convenceu a ser avaliada também. Na primeira consulta veio da confirmação da necessidade de cirurgia. Foi tudo muito rápido, nem deu tempo de pensar. Minha cirurgia aconteceu em janeiro de 2009, três semanas após minha formatura do ensino médio e a recuperação não foi tão difícil quanto eu imaginava.
Após a cirurgia, comecei a trocar experiências com pessoas que já haviam passado pelo mesmo e, de repente, me vi entre outras tantas meninas com escoliose que eram como eu antes de operar: repletas de medos, dúvidas e que não tinham ninguém para falar a respeito.
Assim, criei uma comunidade na rede social da época (Orkut), com o intuito de reunir pacientes ou familiares com escoliose e trocar experiências. Porém, isso rapidamente tomou proporção muito maior. Começaram a vir pessoas de diferentes partes do país: Rio Grande do Sul, Florianópolis, Rio Grande do Norte e eu criava uma ponte entre elas e a possível cirurgia. Elas vinham até Santos ou São Paulo e muitas fizeram cirurgia. Eu me lembro de cada rostinho daquelas que pude visitar.
Ouvi muitas histórias lindas, conheci meninas, que hoje se tornaram mulheres perfeitas e fortes. Encontrei mães desesperadas e emocionadas e famílias unidas por uma única causa.
Fui me envolvendo muito mais com a escoliose, dei várias entrevistas a respeito. Chorei, falei, mostrei e sonhava junto com todas que ainda não tinham realizado o sonho de ficar “retinha”. Tínhamos até camiseta sobre a causa. Muitas meninas me pediam para usar.
Decidi, então, fazer faculdade de Fisioterapia. Cuidei de pessoas com o mesmo problema que eu. Fiz parte do Primeiro Encontro de Pessoas com Escoliose, em 2013, no Rio de Janeiro. Minha história foi contada no livro “A Menina da Coluna Torta”. Tiveram entrevistas para sites, televisão e rádio. Quanta coisa boa toda essa história me proporcionou.
Eu não seria “eu” sem minha escoliose, sem minha história e, principalmente, sem as meninas tortas, com colete, medos, revoltas e, mais tarde, parafusos. Eu ainda tenho o sonho de tirar do papel meu projeto de conscientização e diagnóstico precoce da doença. Poder dar apoio a todas as meninas e mães assustadas na sala de tantos hospitais, conseguir mostrar para cada uma que tem alguém aqui, como elas. Ensinar, orientar essas famílias com todo carinho é o que elas merecem e precisam.
Eu perdi parte da minha infância e passei toda minha adolescência escondida. Tive medo e hoje gostaria que ninguém mais passasse por isso. É preciso mostrar que é possível ter vida normal após a cirurgia: casar, ter filhos, se formar e até dançar. Ou seja, ser o que quiser.
Minha eterna gratidão ao Dr. Alberto, que proporcionou que eu vivesse tudo isso e que nos amparou a todo momento. Que nunca parou de buscar conhecimento e trazer soluções para todos nós pacientes. Que foi um amigo, ao ler cada história que eu enviava, assim como cuidou e ajudou cada caso. Eu não tenho nem palavras para tamanha generosidade.
Ei, você! Não tenha medo e nem vergonha. A vida só está te ensinando a ser forte e não desistir. Pega essa coluna aí e mostra para o mundo para que você veio!
Vai dar tudo certo,
Com muito amor e gratidão a todas
Gabi
Relato de caso redigido pela paciente Gabriela, cuja divulgação foi expressamente autorizada pela mesma.
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Esse Dr me curou de um problema que eu tinha a meses na cervical. Uma neurologista pediu que eu o procurasse, mas disse que tinha que ser ele. Que pena que não está mais em Santos.